Jovens e mulheres lideram avanço evangélico no Brasil, mostra Censo
Nos últimos doze anos, a paisagem religiosa do Brasil se transformou de forma significativa. O Censo Demográfico 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que o grupo religioso que mais cresceu entre 2010 e 2022 foi o dos evangélicos, cuja proporção na população saltou de 21,6% para 26,9%. Parte expressiva desse […] The post Jovens e mulheres lideram avanço evangélico no Brasil, mostra Censo first appeared on Folha Gospel.

Nos últimos doze anos, a paisagem religiosa do Brasil se transformou de forma significativa. O Censo Demográfico 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que o grupo religioso que mais cresceu entre 2010 e 2022 foi o dos evangélicos, cuja proporção na população saltou de 21,6% para 26,9%. Parte expressiva desse crescimento tem rostos marcados por juventude e feminilidade.
A pesquisa do IBGE mostra que crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos compõem a faixa etária proporcionalmente mais evangélica, com 31,6% se declarando como tal. Já as mulheres representam 55,4% do total de fiéis evangélicos, superando a participação feminina na população geral. Esses dados apontam não apenas para um fenômeno estatístico, mas para dinâmicas comunitárias, sociais e espirituais que vêm se consolidando nas últimas décadas.
O papel dos jovens: engajamento, pertencimento e fé
Para compreender a atração que o ambiente evangélico exerce sobre os mais jovens, é preciso olhar para além das estatísticas. Segundo a socióloga Christina Vital, professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), as igrejas evangélicas souberam adaptar suas práticas e linguagens para dialogar com os interesses e as inquietações da juventude.
“Há desde uma adaptação muito forte das liturgias evangélicas, seja por meio da estética ou a partir das teologias, até a oferta de mecanismos de circulação e de perspectiva de vida”, explica.
Essa aproximação passa também pela presença concreta no cotidiano. O pastor Etevaldo Serqueira, destaca a forma como as igrejas investem em estratégias de formação e envolvimento direto.
“Temos uma escola bíblica dominical, incentivamos a leitura bíblica e criamos setores com esportes, música e encontros sociais. Os jovens também recebem oportunidade de pregar e participar dos cultos dos jovens”, aponta ele sobre os possíveis motivos que atraem os jovens para sua comunidade.
Na avaliação dele, esse ambiente contribui para dar sentido à caminhada de fé. “Eles são estimulados a seguirem carreiras, promovemos torneios de conhecimento bíblico, tudo de forma contextualizada e envolvente”, contextualiza.
A percepção da igreja como espaço de acolhimento, propósito e possibilidade de transformação ressoa especialmente entre os jovens que enfrentam frustrações sociais. “Eles são críticos ao Estado e encontram nas igrejas uma expectativa de futuro, mesmo que baseada no mérito”, observa Christina Vital.
Mulheres no centro da transformação
Entre as fiéis evangélicas, a presença das mulheres não é apenas numerosa, mas estrutural. O Censo 2022 mostrou que elas formam a maioria entre os membros da religião, com representatividade maior do que em outras tradições religiosas, incluindo a católica. Além disso, elas vêm ganhando espaço em funções de liderança e influência espiritual, ainda que essa caminhada não esteja livre de tensões.
“Hoje já é mais comum ver uma mulher liderando ou pastoreando dentro de uma igreja. A igreja tem se aberto para essa nova realidade, mas ainda há muito o que fazer nesse aspecto”, afirma a pastora Eristelia Bernardo, Comunidade Cristã Casa do Pai, Governador Valadares/MG. Para ela, o avanço das mulheres na vida comunitária é inegável, mas ainda encontra barreiras. “Algumas ainda não compreenderam esse chamado da mulher. Acredito que não existe pastoreio feminino ou masculino, acredito que existe pastoreio”, diz.
Essa percepção também é compartilhada por Nilza Valéria, pastora e coordenadora da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito. “Na igreja, isso não acontece. É normal estarmos nesses espaços. Lá eu sou a pastora Nilza, não preciso provar nada. As mulheres de oração são valorizadas nas suas comunidades e o que elas falam é lei”, declarou, em entrevista à Agência Brasil.
Além de assumirem posições formais de liderança, muitas mulheres sustentam o dia a dia das comunidades evangélicas com ações práticas. “São líderes, professoras de Bíblia, promovem encontros de casais, pregam, tocam instrumentos. São muito respeitadas”, resume o pastor Etevaldo.
Desafios e horizontes
Apesar do crescimento, a proporção de evangélicos ficou abaixo das expectativas. Projeções anteriores estimavam que o grupo poderia chegar a 40% da população, o que não se concretizou. Ainda assim, o avanço é significativo e desafia as lideranças evangélicas a manterem a relevância espiritual e social do movimento.
“Os desafios estão na insistência de pregar o Evangelho de forma pura, honesta e transparente”, pontua o pastor Etevaldo. Ele observa que muitas igrejas estão se mobilizando para preparar as novas gerações também em termos profissionais e educacionais, criando escolas e programas de formação.
“Acredito que vai haver um crescimento muito maior da presença feminina nas igrejas. As mulheres representam em torno de 70% a 80% das pessoas dentro de uma congregação; isso é algo que pude observar ao longo dos meus 20 anos de pastoreio”, reflete a pastora Eristelia.
Os evangélicos têm se consolidado como uma força social e espiritual moldada por afetos, vínculos e práticas coletivas. No cotidiano de bairros dos mais variados recantos do Brasil ou nos cultos de jovens, pulsa um cristianismo em transformação, no qual fé, identidade e comunidade caminham lado a lado.
Mais que estatística, o crescimento evangélico destes perfis revela uma busca coletiva por pertencimento, propósito e reconstrução de sentido em meio às tensões do mundo contemporâneo. Cenário no qual mulheres e adolescentes sabem muito bem se posicionar para buscar reconhecimento.