Cidade de São Paulo começa processo de integração de dados de rede pública de saúde
Ao todo, 370 dos 1.100 estabelecimentos públicos de saúde estão integrados à Rede Municipal de Dados do SUS, que tem como meta uma expansão total até o final de 2026 The post Cidade de São Paulo começa processo de integração de dados de rede pública de saúde appeared first on Futuro da Saúde.

A cidade de São Paulo implantou em outubro de 2024 a Rede Municipal de Dados do SUS, que tem o objetivo de interoperar dados e aplicar inteligência artificial para otimizar o atendimento e a gestão de serviços de saúde. Desde seu início, o projeto já integrou dados de 370 dos 1.100 estabelecimentos de saúde de diversos níveis de atendimento, de UBS até policlínicas, hospitais, CAPS e maternidades. Dados operacionais de 2024 indicam que, em algumas UPAs e hospitais onde a interoperabilidade já foi implantada, houve redução de até 18% no tempo médio de atendimento clínico e na espera por exames.
Nos estabelecimentos onde já está funcionando, a iniciativa envolveu implementar um prontuário eletrônico em nuvem e conectar as unidades de saúde a um único repositório de dados, com uso da Amazon Web Services (AWS). Em seguida, tecnologias como Data Lakehouse e Bedrock ajudaram a transformar esse volume de dados em informações para a prática clínica. “Essas ferramentas permitem que os profissionais de saúde visualizem, de forma rápida e organizada, toda a trajetória clínica dos pacientes”, explica Henrique Nixon, Chief Strategy Officer da Liberty Health, uma das parceiras da iniciativa. Para o desenvolvimento do projeto, a Liberty Health contou com a parceria da Sensedia, empresa global especializada em soluções de APIs e integrações, responsável pela tecnologia que permite a conexão fluida e simplificada entre os diversos órgãos de Saúde em São Paulo.
Esse projeto faz parte de um contexto de modernização tecnológica da rede pública de saúde, segundo explica em nota a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo. Com a integração dos sistemas, “os profissionais passaram a ter acesso rápido e seguro às informações clínicas dos pacientes, como histórico, exames e medicações, o que contribui para diagnósticos mais ágeis e precisos, além de agilizar o atendimento”, destacou a secretaria.
Até 2026, se espera integrar 100% das unidades, em etapas que consideram a infraestrutura disponível, o nível de capacitação das equipes e a maturidade digital de cada local. De acordo com Nixon, a expansão do sistema segue um cronograma técnico e operacional que prioriza unidades com maior volume de atendimento — como hospitais e UPAs — além de estruturas estratégicas, como CAPS e maternidades. A expectativa é que a digitalização gere uma economia anual de cerca de R$ 12 milhões apenas com a eliminação de exames duplicados.
Desafios para implantar a Rede Municipal de Dados do SUS
Na prática, Nixon explica que o projeto segue a mesma lógica federal que a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS). No caso, em São Paulo, a iniciativa interliga os sistemas regionais. Atualmente, a interoperabilidade abrange o SUS e de entes públicos, deixando de fora a rede privada.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, diversas ações procuram garantir a efetividade no uso do sistema integrado e suas ferramentas. Junto à sua implantação são realizados, por exemplo, capacitações presenciais nas unidades, há materiais de apoio, suporte técnico contínuo e visitas periódicas de equipes especializadas.
O projeto segue princípios de proteção de dados da Amazon Web Services (AWS) e diretrizes da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). “Os dados utilizados no projeto são exclusivamente voltados ao cuidado assistencial, com foco na melhoria do atendimento e na preservação de vidas”, afirma Marcelo Biangulo, Chief Data Officer da Liberty Health. Além disso, por envolver unidades de saúde que integram a mesma rede de dados da prefeitura, não foi necessário obter consentimento individual dos pacientes, o que acelerou o processo de implementação do sistema.
No entanto, a iniciativa tem dificuldade em chegar a unidades localizadas nas periferias, como algumas UBSs e CAPS, onde há conectividade limitada, ausência de sistemas informatizados e equipes de TI reduzidas. Para mitigar esses obstáculos, um mapeamento contínuo, realizado em colaboração com a equipe de infraestrutura da Secretaria Municipal de Saúde, direciona a priorização e a adaptação das fases de implementação de acordo com a realidade local.
Além disso, segundo Nixon, a Rede Municipal de Dados do SUS enfrentou resistência de algumas Organizações Sociais (OS) que administram equipamentos de saúde. Em termos operacionais, suas equipes sentiam dificuldade no registro de dados de origem. Mas ficaram convencidas da estratégia de digitalização após a demonstração de que ela gera ganhos assistências e também resultados financeiros.
Contexto e próximos passos
A experiência da cidade de São Paulo está inserida num movimento de digitalização em evidência no estado paulista. Em agosto de 2024, o governo estadual lançou seu programa de saúde digital e inaugurou o Centro de Inovação em Saúde Digital no Instituto Perdizes do Hospital das Clínicas. Mais recentemente, em março, foi lançado um projeto para mapear as iniciativas de saúde digital no SUS paulista.
No contexto federal, o debate sobre integração de dados e interoperabilidade passou a fazer parte da agenda do Ministério da Saúde nos últimos anos como forma de melhorar a coordenação do atendimento e qualidade de serviços oferecidos à população. Em 2022, foi lançado o projeto Open Health, com a ANS, Ministério da Economia e o Banco Central, como uma tentativa de desenvolver um prontuário único para cada paciente, além de simplificar a transferência entre diferentes planos de saúde.
Seus avanços, no entanto, têm sido lentos, devido à ausência de conexão entre os sistemas, a fragmentação e falta de padronização dos dados, entre outros aspectos. Para reforçar essa agenda, o Ministério criou, em 2023, a Secretaria de Informação e Saúde Digital (SEIDIGI). À frente dela, Ana Estela Haddad tem coordenado esforços para modernização de processos, tendo a digitalização do SUS como prioridade.
A rede paulistana dialoga com essa estrutura nacional, acrescentando diferenciais. Uma delas é a capacidade de os sistemas não só enviarem dados ao repositório, mas também receberem informações clínicas em retorno — uma funcionalidade ausente, por exemplo, na Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS).
Agora, a Rede Municipal de Dados do SUS entra em uma nova fase com a implementação de um visualizador clínico unificado. Essa ferramenta permitirá que diversas plataformas, da atenção primária aos hospitais, acessem e compartilhem as mesmas informações clínicas, assegurando uma visão integrada e contínua do histórico do paciente.
Além disso, com uso de inteligência artificial, estão sendo desenvolvidos sumários clínicos personalizados para diferentes contextos, como pré-natal, citopatologia e anestesia. Eles têm potencial para aprimorar a precisão das informações e contribuir com um cuidado mais eficiente e assertivo. A tecnologia será um apoio para promover uma prática clínica mais dedicada à escuta: “Hoje, o médico passa 80% do tempo digitando e apenas 20% conversando com o paciente. A meta é inverter essa lógica”, conclui Nixon.