Ações da Gol mudam para GOLL53 e GOLL54 após aumento de capital de R$ 12 bi

A Gol Linhas Aéreas Inteligentes, uma das maiores companhias aéreas do Brasil, marcou um novo capítulo em sua história financeira ao concluir, em 12 de junho de 2025, o processo de recuperação judicial nos Estados Unidos, conhecido como Chapter 11. A reestruturação, que envolveu um aumento de capital de R$ 12 bilhões e a emissão […]

Ações da Gol mudam para GOLL53 e GOLL54 após aumento de capital de R$ 12 bi

A Gol Linhas Aéreas Inteligentes, uma das maiores companhias aéreas do Brasil, marcou um novo capítulo em sua história financeira ao concluir, em 12 de junho de 2025, o processo de recuperação judicial nos Estados Unidos, conhecido como Chapter 11. A reestruturação, que envolveu um aumento de capital de R$ 12 bilhões e a emissão de quase 9 trilhões de novas ações, alterou profundamente a estrutura acionária da empresa, com a Abra Group assumindo o controle de cerca de 80% do capital. A partir desta data, as ações da companhia passaram a ser negociadas na B3 com novos tickers: GOLL53 para ações ordinárias e GOLL54 para preferenciais. A mudança reflete a conversão de dívidas em ações, mas trouxe preocupações com uma diluição patrimonial de até 99,8% para os acionistas minoritários, além de uma alavancagem ainda elevada. O processo, embora tenha garantido a sobrevivência da empresa, levanta questionamentos sobre o futuro dos investidores e a competitividade no setor aéreo.

O movimento da Gol ocorre em um momento crítico para o setor aéreo brasileiro, que enfrenta desafios como alta concorrência, custos operacionais elevados e recuperação pós-pandemia. A companhia, fundada em 2001, consolidou-se como uma das líderes do mercado com sua estratégia de baixo custo, mas acumulou dívidas significativas, que chegaram a cerca de R$ 51 bilhões antes da reestruturação. A capitalização foi essencial para reduzir esse montante, mas a emissão de ações a preços simbólicos gerou forte impacto no mercado acionário.

  • Principais mudanças na B3:
    • Substituição dos tickers GOLL3 e GOLL4 por GOLL53 e GOLL54.
    • Novo lote padrão de negociação de 1.000 ações.
    • Negociação no mercado fracionário permitida para quantidades inferiores a 1.000 unidades.
    • Ajuste automático dos códigos de opções derivadas para GOLL53 e GOLL54.

A reestruturação financeira da Gol é vista como um marco, mas os efeitos para os investidores minoritários e a percepção do mercado ainda geram cautela, conforme apontam analistas de instituições como BTG Pactual, Bradesco BBI e Ágora Investimentos.

Nova estrutura acionária

A reestruturação da Gol foi centrada em um aumento de capital de R$ 12 bilhões, aprovado em assembleia de acionistas em maio de 2025. O plano envolveu a conversão de créditos em ações, com a emissão de 8,1 trilhões de ações ordinárias a R$ 0,00029 cada e 968,8 bilhões de ações preferenciais a R$ 0,01. Essa operação permitiu à companhia reduzir significativamente sua dívida, mas resultou em uma diluição patrimonial de 99,8%, afetando diretamente os acionistas minoritários.

O controle acionário passou a ser majoritariamente detido pela Abra Group, holding que agora possui cerca de 80% das ações ordinárias e preferenciais da Gol. A concentração de poder acionário levanta questões sobre a influência dos investidores minoritários nas decisões futuras da companhia. Além disso, a nova política de cotação, com negociação em lotes de 1.000 ações, busca manter a liquidez, mas pode limitar a acessibilidade para pequenos investidores no mercado fracionário.

A B3, responsável pela bolsa de valores brasileira, ajustou automaticamente os códigos de negociação das opções derivadas, que também passaram a operar sob os tickers GOLL53 e GOLL54. A mudança visa evitar confusões sobre o valor real das ações após a diluição, mas a percepção do mercado permanece negativa, com quedas expressivas nos preços dos papéis nos dias que antecederam a transição.

Reação do mercado acionário

As ações da Gol enfrentaram forte volatilidade durante o processo de reestruturação. Em 9 de maio de 2025, os papéis GOLL4 registraram uma queda de mais de 30% na B3, refletindo a reação inicial do mercado ao anúncio do aumento de capital. Em 10 de junho, a desvalorização foi de 12,20%, com as ações cotadas a R$ 1,08. No dia seguinte, a cotação caiu para R$ 0,79, acumulando uma perda de 26,17% em 12 meses.

Analistas do BTG Pactual destacaram a alavancagem ainda elevada da companhia, que permanece em 5,4 vezes o EBITDA, como um fator de risco. A recomendação de venda foi mantida, com um preço-alvo de R$ 1 para as ações GOLL54. O Bradesco BBI, por sua vez, fixou um preço-alvo de R$ 0,90, também recomendando venda, enquanto a Ágora Investimentos alertou para os riscos estruturais que continuam a pressionar o valor dos papéis.

  • Fatores que contribuíram para a queda das ações:
    • Diluição patrimonial de 99,8% decorrente da emissão de 1,2 trilhão de novas ações.
    • Alavancagem financeira elevada, mesmo após a reestruturação.
    • Controle concentrado na Abra Group, reduzindo a influência dos minoritários.
    • Percepção de risco no setor aéreo, com custos operacionais em alta.

A volatilidade reflete a cautela dos investidores em relação à capacidade da Gol de recuperar a confiança do mercado, apesar da conclusão do Chapter 11.

Financiamento e redução de dívidas

A Gol garantiu um financiamento de US$ 1,9 bilhão para apoiar sua saída do processo de recuperação judicial. Esse montante, obtido junto a credores e liderado pela Abra Group, foi essencial para assegurar a continuidade das operações e modernizar a frota, composta por 146 aeronaves Boeing 737. A empresa também revisou mais de 50 motores em 2024 e planeja ter toda a frota ativa até o primeiro trimestre de 2026, com a chegada de cinco novos Boeing 737 MAX em 2025.

A redução da dívida, que antes alcançava R$ 51 bilhões, foi um dos principais objetivos do plano de reestruturação. A conversão de US$ 2,7 bilhões em ações foi um passo significativo, mas a alavancagem financeira permanece elevada, o que exige atenção contínua da gestão. A companhia otimizou sua rede de rotas, priorizando destinos com alta demanda corporativa e turística, o que deve contribuir para um aumento de 4% no RASK (Receita Operacional por Assentos-Quilômetro Oferecidos) em 2025.

Impacto nos acionistas minoritários

A diluição patrimonial de 99,8% gerou preocupações entre os acionistas minoritários, que viram suas participações reduzidas a valores quase insignificantes. A emissão de ações a preços simbólicos, como R$ 0,00029 para ações ordinárias e R$ 0,01 para preferenciais, foi necessária para viabilizar a reestruturação, mas comprometeu o valor patrimonial dos investidores anteriores.

A B3 implementou medidas para proteger os investidores de varejo, como a substituição dos tickers e a imposição de negociação em lotes de 1.000 ações. Essas ações buscam evitar distorções na percepção do valor dos papéis, mas não eliminam os desafios enfrentados pelos minoritários. A concentração de 80% do capital na Abra Group também reduz a influência dos pequenos investidores nas decisões estratégicas da companhia.

Modernização e planos operacionais

A Gol aproveitou o processo de reestruturação para racionalizar sua frota e otimizar custos. A companhia padronizou suas operações com aeronaves Boeing 737, o que reduz despesas com manutenção e treinamento. A modernização inclui a incorporação de aviões mais eficientes, como o Boeing 737 MAX, que consome menos combustível e oferece maior capacidade de passageiros.

A empresa também redesesenhou sua malha aérea, focando em rotas de alta demanda. Essa estratégia visa melhorar a eficiência operacional e aumentar a receita por assento, um indicador crítico para a saúde financeira do setor aéreo. A projeção de crescimento de 4% no RASK reflete o otimismo da gestão em relação à recuperação da demanda por viagens corporativas e turísticas.

  • Iniciativas operacionais da Gol:
    • Revisão de mais de 50 motores em 2024.
    • Incorporação de cinco Boeing 737 MAX em 2025.
    • Redesenho da malha aérea com foco em destinos corporativos e turísticos.
    • Padronização da frota para reduzir custos de manutenção.

Cenário do setor aéreo

O setor aéreo latino-americano enfrenta desafios estruturais, como destacou Adrian Neuhauser, CEO da Abra Group. Além da alta concorrência, as companhias aéreas lidam com atrasos na entrega de aeronaves e barreiras comerciais que elevam os custos operacionais. A Gol, mesmo após a reestruturação, opera em um ambiente de incertezas, com pressões de custo provenientes de combustíveis e câmbio.

A companhia mantém o programa Smiles, que conta com 20,5 milhões de membros e permite a acumulação e resgate de milhas. Esse programa é uma fonte importante de receita auxiliar, mas não foi suficiente para evitar os prejuízos acumulados, como os R$ 440 milhões registrados em abril de 2025. A gestão da Gol aposta na recuperação da demanda e na eficiência operacional para reverter esse cenário.

Recomendações dos analistas

As recomendações de venda emitidas por BTG Pactual, Bradesco BBI e Ágora Investimentos refletem a percepção de risco associada às ações da Gol. A diluição patrimonial, a alavancagem elevada e a concentração acionária na Abra Group são fatores que pesam contra a valorização dos papéis no curto prazo.

O Bradesco BBI destacou que, apesar do financiamento de US$ 1,9 bilhão, os riscos estruturais permanecem. A Ágora Investimentos alertou para a pressão sobre o valuation da companhia em comparação com concorrentes como a Azul, que também enfrenta desafios, mas mantém uma estrutura financeira menos alavancada.

Próximos passos da Gol

A Gol planeja investir na experiência do passageiro e na expansão de rotas nos próximos anos. A modernização da frota e a otimização da malha aérea são prioridades, assim como a redução contínua da alavancagem financeira. A companhia espera que a conclusão do Chapter 11 marque o início de uma nova fase de crescimento, mas o mercado permanece cético quanto à capacidade de recuperação no curto prazo.

A negociação das ações sob os novos tickers GOLL53 e GOLL54, a partir de 12 de junho de 2025, será um teste para a confiança dos investidores. A liquidez assegurada pelo financiamento e as melhorias operacionais são pontos positivos, mas a diluição patrimonial e os riscos financeiros continuam a desafiar a companhia.